sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016


Desculpa


Desculpas são armas dos fracos
sem pontas lapidadas
são lanças inúteis

A desculpa é fel que amarga
a razão, não possui
sustentação

Desculpas que justificam erros
falham toda vez

A desculpa é navalha
que fere seu freguês


.




Das letras

Fome de palavras
sinto o tempo inteiro
mas o saciar verdadeiro
sempre estou longe de alcançar

Nomes são lavras
de um plantar derradeiro
vocábulos são como um luzeiro
orientando meu trôpego caminhar

Fonemas dão o ritmo
que tanto quero alcançar
mas são discretos a pontuar

Poema, grito íntimo
que tanto preciso ecoar
porém só o que faço é soluçar


.




Meu amor

Podes nem perceber
o quanto fez doer

Podes nem saber
o que fez corroer

o amor

Mas a indiferença
machuca, é doença

Toda a interferência
fez ruído e deu a sentença

condenando o amor

a uma pena absurda
sem apelos, surda

rejeitando ajuda
e abortando a muda

do meu amor

.





Cami(ni)nho

As linhas foram como caminhos
visivelmente organizados
mas interiormente caóticos

Caminhos que me transportaram
visivelmente apaixonada
mas soberanamente conduzida

As palavras foram como ninhos
amorosamente trançados
mas, sobretudo, amnióticos

Ninhos que me gestaram
amorosamente transfigurada
mas, no fundo, agradecida


.





Quando a felicidade espia pela fresta

Ela não pede passagem
Não percebe obstáculos
apenas cresce e vem
desabrocha

Ela não aceita blindagem
Não arrefece com o frio
apenas aquece e mantém
o clima

sereno em qualquer condição


.




Plano próprio

Sob um ângulo
ótica
luz
prisma
foco
particular

Sou obtuso
ponto
no tempo

Sobre um tabuleiro
enredo
vida
senda
aventura
linear

Sou meu fuso
apoio
e fundamento

.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016



Das importâncias

Distâncias entorpecem
como vinho santo e tinto
dão qualidade ao amor que sinto

Importâncias crescem
quando o pouso é sem ninho
não há felicidade em ser sozinho

Distâncias não arrefecem
com o lento sabor das demoras

Importâncias não descem
dos tronos no suceder das auroras

.

.




Ser abrangente

Constituída
de humores
hormônios
líquidos
sangues
segredos
intuições

Construída
nas exceções
excessos
véus
medos
sabores
sacrifícios

Refaço os trilhos
costurados com brilhos

Retorno ao início
consumado delírio

Ser abrangência de delícias

.





O guarda-mundos

Por ser do tipo guardião
dos mundos, dos portais
de várias envergaduras

Por certo, ele precisava
de um ser forte, e mais,
com uma mágica cavalgadura

Por dentro, sensível
com abertos canais
de espiritualidade

Por fora, indefectível
armadura dos imortais
visão de austeridade

Seria a cavalgaduradoura
sua montaria, e quais
desafios lhe peitariam?

Seria de empoderamento
o seu mister, totais
destemores lhe devotariam

.


.


Declaração

De quando o peito fica repleto
a ansiedade palpita, agita

De quando o verbo se excita
comunica, a palavra a ser dita

De quando a emoção fica clara
a vontade impõe, expõe

De quando o verbo se compõe
constrói, o anúncio predispõe

.

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o fogo se se recolhe sendo apenas brasa quando precisa apenas aquecer...

Anderson Ferreira

..



O fogo se recolhe
como a vida que se encolhe
tentando reabastecer-se
lutando por conter-se
ainda invólucro
corpo presente
mente ausente

Quando precisa apenas
aquecer, a duras penas
tentando esquecer-se
lutando por estender-se
além do acordo tácito
das horas
senhoras

mantenedoras da expiação

.

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Jasmim manga

Inspira-me sua fortaleza
resiste aos ventos
insiste na semeadura da beleza

Inspira-me fragrâncias
que exalam sentimentos

Inspira-me constâncias
que falam dos momentos

Inspira-me sua natureza
cores agraciamentos
flores na fartura da pureza

.

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Sincopeiamente

O verso veio assim
sincopeiamente
troteando pela língua

Qual gago, no fim
terminou demente
nos deixando à míngua

.


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O voo das saudades

Delicadamente
o dia dá adeus
com promessas
de proteção
e breve volta

Levemente
balançam
as penas
ao sabor
da brisa 

Docemente
as saudades
em remessas
de ar quente
vão soltas

Lindamente
avançam
por entre
sombras
e divisas
.

.